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O primeiro vislumbre que tive da manhã veio acompanhado de batimentos cardíacos acelerados. Minhas pálpebras sonolentas mal puderam se expressar pesando sobre meus olhos, estes já se arregalavam em súbito desespero. Aos poucos, os arredores vieram trazendo a realidade à tona, e em uma fração de segundo, a inquietação é substituída por alívio.
Era sábado de manhã. Eu havia recém despertado de um pesadelo, que logo tentei recapitular na intenção de compreender o susto, mas não obtive sucesso. A única vaga memória que pairou sobre minha mente foi uma porta preta em meio a uma vasta escuridão. Um sentimento de vulnerabilidade me percorreu a espinha. Despistei-o instantaneamente; é apenas uma projeção do inconsciente.
Levantei da cama e, no espelho ao lado, fui forçada a encarar minha imagem desadormecida. Meus cabelos escuros estavam formando um grande ninho de nós, minha franja totalmente levantada. Iria tomar um banho após o café, sem dúvidas.
Cheguei à cozinha e vi minha mãe sentada, centrada em seu telefone, bebendo uma xícara de café com adoçante e comendo sua barrinha de proteína diária, que já estava até mesmo etiquetada com "da Susana".
"Bom dia, querida!", ela me disse, mal me olhando. "Dormiu bem?"
"Bom dia, mãe. Sinceramente, não tanto. Tive um pesadelo, mas sei lá o que aconteceu nele. Só lembro de um espaço escuro. "
"Que loucura, hein?" — o desdém era perceptível. "Estela, a mãe vai sair, tá? Vou ver o Caio, vamos almoçar em algum canto." Concordei com a cabeça sem me importar muito, e ela logo foi até seu quarto para se arrumar.
Caio era o namorado da minha mãe. Os dois namoram já fazem 4 anos, sendo esses cheios de términos e reconciliações. Desde que estão juntos, ela mal lembra que existo; no máximo se debruça sobre meu colo para chorar e desabafar quando os dois discutem (durante estes períodos, é tudo que ela costuma fazer). Logo que se resolviam, minha mãe voltava a ficar fora de casa o dia inteiro. Assim, com 11 anos, tive que aprender a tomar conta de tudo.
Meu pai, Rodrigo, era repórter, e morreu em um acidente de helicóptero quando ainda era bebê. Durante a gravação de uma reportagem sua, o veículo despencou. Sua queda foi fatal, portanto, dentre todos os presentes, meu pai foi o único que veio a falecer. Meus avós maternos eram extremamente religiosos, e resolveram se afastar da minha mãe quando ela ficou grávida de mim, visto que ela não era casada com meu pai. Já os paternos não cheguei nem a conhecer.
Portanto, eu acabei não tendo ninguém além de mim mesma. Preparava as refeições, limpava a casa, cuidava do meu gato Mello, fazia as compras e, além disso, ainda tinha que estudar.

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